Dr. Alberto Olavo Advíncula Reis e
Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro
A vida da mulher é marcada por três fases particularmente significativas: a adolescência, a maternidade e a menopausa. Dessas, a maternidade talvez seja a que tem significado mais profundo. Em primeiro lugar, porque a gravidez é, na maior parte das vezes, voluntária. A mulher pode decidir se quer ou não ter filhos, e isto jamais será uma decisão banal. Uma vez que se decida pela maternidade, pode planejar o número de filhos, o momento mais adequado para tê-los e o intervalo das gestações – o que não acontece com a adolescência e a menopausa, fases que não podem ser evitadas. Em segundo lugar, a maternidade implica imediatamente a vida de um outro ser: o bebê. Além disso, uma mulher não gera filhos sozinha. Engravidar implica na participação masculina. Em geral, toda a família fica mobilizada à espera do bebê. A gravidez é um processo natural, que normalmente transcorre sem problemas ou traumas. Pode e deve ocorrer de modo tranqüilo. E como faz nos grandes acontecimentos de sua vida, a mulher também deve preparar-se com cuidado para a experiência da maternidade. O pré-natal Ao descobrir-se grávida, toda mulher deve dirigir-se ao serviço de saúde ou ao seu médico, para dar início ao pré-natal, que deve iniciar-se cedo, no curso dos três primeiros meses da gravidez. Sabidamente, o pré-natal bem feito assegura à gestante uma gravidez sem problemas, aumentando suas chances de ter um filho saudável e a própria saúde bem cuidada. Além de ser submetida a exames completos periódicos, a futura mãe obterá respostas para suas principais dúvidas e poderá falar sobre seus medos e inseguranças. Nas primeiras consultas, será pesada, fará exame clínico e ginecológico completo e exames de sangue, urina e fezes. Se preciso, o médico poderá solicitar algum exame complementar, como o ultra-som, por exemplo. Geralmente, as grávidas têm grande expectativa com relação à primeira consulta do pré-natal. Nesta, o objetivo principal é avaliar o seu estado geral de saúde, bem como o do feto. A partir desta avaliação o médico poderá idealizar um plano específico de consultas e cuidados futuros para com a grávida e seu bebê. Durante todo o pré-natal a gestante receberá informações diversas a respeito do processo de sua gravidez, do parto, do aleitamento, da maneira de cuidar de si e da criança por nascer. Na primeira fase do pré-natal ela deverá ser atendida pelo menos seis vezes, por profissionais de saúde, das quais pelo menos duas pelo médico. Mas sendo a gestação um processo normal na vida das mulheres, será mesmo preciso tomar todos estes cuidados? Claro que sim. Mesmo em se tratando de um processo natural, a gravidez é uma fase bastante especial. É muito comum, por exemplo, que no seu início a mulher tenha enjôo, tonturas, vômitos, dor de cabeça, salivação excessiva. É também usual que irrite-se por motivos que não merecem tanto desgaste, sinta muito sono, quase o tempo inteiro; ou fique muito sensível e chore à toa. Pode também ter muita prisão de ventre ou a sensação de estar todo o tempo com a bexiga cheia, com vontade freqüente de urinar. Tudo isto pode ser normal, no sentido de não apresentar maior significado, no presente e no futuro, nem para a mulher nem para o bebê. Mas também pode não ser.
A gestação de alto risco: o que é e por que acontece Às vezes, uma mesma ocorrência não traz qualquer problema para uma pessoa, enquanto que, para outra, pode vir a acarretar algo especial. Assim, uma gripe é uma situação enfrentada quase normalmente por muita gente, sem maiores seqüelas. Mas caso alguém esteja muito fraco, alimentando-se mal ou com algum outro problema de saúde, o simples fato de contrair uma gripe pode conduzir a uma doença mais séria. Também a gravidez pode, em certas circunstâncias, trazer riscos à saúde da mãe e do bebê que virá a nascer. A gestação é um fenômeno normal e, na maioria dos casos, sua evolução ocorre sem qualquer complicação. Porém, em cerca de 10 a 20% das mulheres, a gestação pode ocasionar problemas mais ou menos graves: as chamadas gestações de alto risco, ou seja, aquelas que podem afetar seriamente tanto o desenvolvimento e a saúde do feto como a saúde da mãe. Vejamos um exemplo: no Brasil, de 70 a 150 mulheres em cada cem mil morrem por alguma causa ligada à gestação e ao parto. Entretanto, provavelmente viveriam caso não tivessem enfrentado uma gravidez de alto risco, para a qual não foram cuidadas ou preparadas. E gravidez não é doença, não é justo que uma mulher morra ou fique doente por esse motivo. O mais grave é que a quase totalidade destas mortes não necessitaria acontecer, haja vista que 90% delas são evitáveis se as gestantes fossem acudidas a tempo. Também não é justo que uma mãe perca o filho que tanto queria. Com um bom planejamento familiar e pré-natal, uma boa assistência ao parto e cuidados adequados após o nascimento da criança, tanto a mãe como o bebê estariam aproveitando a vida e gozando de boa saúde. E isto não é novidade. Na Índia antiga, os sábios e as pessoas que cuidavam das mulheres já diziam que o acompanhamento e o cuidado dedicados à saúde física e emocional da gestante eram muito importantes e podiam evitar problemas para ela e seu filho.
Mas por que ocorre a gravidez de alto risco? Uma gestação pode tornar-se uma gravidez de alto risco por várias razões, por exemplo: se a gestante viver numa região onde não exista água corrente nem sistema de esgoto isto - condições ambientais e sociais precárias - pode agravar problemas comuns da gravidez, trazendo perigo tanto para ela quanto para o feto; se ela fumar ou beber durante o período da gravidez isto também pode vir a prejudicar o bom desenvolvimento e crescimento da criança. Entretanto, nem todos os fatores dependem das condições de vida ou do comportamento da mulher. Alguns dependem de fatos totalmente alheios a seu controle. Um deles, exemplificando, é quando a mulher descobre estar grávida de gêmeos. A partir desse momento ela entra automaticamente no grupo de gestação de alto risco, pois pode vir a ter anemia, pressão alta e outros problemas que trarão ameaça à sua saúde e à vida dos fetos, provocando um parto prematuro ou bebês muito pequenos e fracos. Existem outros problemas próprios da gravidez e que podem trazer complicações para a saúde da mãe e do feto, como a pré-eclâmpsia. Nessa doença hipertensiva, específica dos últimos três meses de gravidez, a gestante apresenta inchações, dores de cabeça e problemas renais. Caso sua pressão não seja bem controlada, pode evoluir para a eclâmpsia durante ou após o parto, gerando convulsões, estados de coma e até mesmo a morte. Há, igualmente, casos em que uma mulher já apresentava um problema de saúde anterior à gravidez, como o câncer de colo do útero ou doença do coração, moléstias estas que podem se agravar com a gravidez, trazendo grandes danos à mãe.
Estas situações nos lembram que nem todas as pessoas são iguais e que nem toda gestação decorre tranqüilamente. Algumas podem trazer danos permanentes à saúde da mãe ou comprometer a saúde do bebê. Outras, podem resultar até mesmo em mortes ou em abortos. Para a maioria das mulheres, suas necessidades de saúde são resolvidas com cuidados e procedimentos simples. Para outras, as necessidades a serem resolvidas exigem cuidados, exames e equipamentos mais complexos.
Considerando-se o fato
de que nem toda gravidez é igual, Nas gestações de alto risco é muito importante que o médico e os profissionais dos serviços de saúde identifiquem, o mais rapidamente possível, os problemas existentes e façam um diagnóstico das doenças ligadas à gravidez. Quanto mais rápido o diagnóstico, mais fácil torna-se iniciar o tratamento e tomar os cuidados necessários, antes que ocorra qualquer dano à mãe ou ao feto. As mulheres que estiverem nas situações descritas a seguir, e que engravidarem, serão candidatas naturais à gestação de alto risco:
Obviamente, esta lista não relaciona todos os casos possíveis. Dela constam apenas os mais comuns, que costumam conduzir o médico a um diagnóstico de gravidez de alto risco. Do ponto de vista prático, importa saber que existem alguns problemas específicos da gravidez que podem aparecer em algumas mulheres e levá-las a desenvolver uma gestação de risco.
De acordo com suas características particulares, as gestantes de alto risco terão um controle pré-natal diferenciado tanto nos cuidados quanto no número de consultas. Em geral, visitarão o serviço de saúde no mínimo uma vez por mês, durante os seis primeiros meses de gravidez. Na fase final, no sétimo mês, estas visitas devem acontecer a cada 15 dias; e, posteriormente, uma vez por semana, até o momento do parto. Dependendo da necessidade, poderão ser pedidos ou recomendados exames suplementares e tratamentos específicos, bem como repouso, alimentação e dietas especiais. Seu ganho de peso deverá manter-se entre 9 a 12 quilos; já que engordar exageradamente é prejudicial tanto para a mãe quanto para o feto, inclusive em condições normais de gravidez. É importante lembrar que a gestante jamais deve tomar remédios por conta própria ou por conselho de amigas. A gestante de alto risco tem seus direitos aos cuidados especiais garantidos por lei. Nela deverão ser concentrados mais esforços sociais e familiares, para que possa vir a ter uma boa gestação e um bebê saudável, sem comprometimento de sua saúde. Se a participação do marido ou do companheiro já é indispensável na gestação normal, torna-se ainda mais importante na de alto risco. A melhor maneira de este ficar completamente informado sobre a situação é acompanhar a mulher ao pré-natal e colaborar no que for possível para que esse período transcorra com tranqüilidade. A gestante de risco deve, ainda, poder contar com a ajuda da família, das amigas e amigos. Se a segurança afetiva é importante na vida da gestante normal, mais ainda o é no caso das mulheres que correm riscos na gravidez! Para elas devem se voltar os melhores cuidados, a maior paciência, o máximo carinho e atenção.
Publicado com a autorização de: PROJETO Ministério da Saúde
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