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A FALA INFANTIL REVELA SAÚDE

Rosane Paiva da Silva



Dizem que falar é fácil e difícil é fazer. No entanto, a fonoaudiologia, ciência que estuda os distúrbios da comunicação humana, tem percebido que para algumas pessoas falar é bastante complicado, sendo mesmo uma questão de saúde. Mas agindo preventivamente, essa pode tornar-se uma tarefa fácil, Os pais ou responsáveis podem evitar problemas de fala, voz, linguagem e audição na primeira infância de seus filhos, quando orientados a tomar cuidados específicos em cada fase.

Estimular a aquisição e superação de cada fase no processo da comunicação oral é fundamental para a saúde da criança. Logo após o nascimento o bebê realiza atividades motoras concentradas na região oral, como a sucção, respiração, mastigação e deglutição, que prepararão toda a musculatura adequadamente, dando condições necessárias para a criança esboçar corretamente os sons das palavras e desenvolver sua aprendizagem.

Tanto os "gritinhos" e choros como a alta sensibilidade tátil existente na boca do recém-nascido lhe permitem conhecer o mundo e se relacionar com ele. Nesse período a criança vive situações prazerosas, reconhece texturas, objetos, ativa sua memória gustativa e assim organiza seu esquema corporal bucal, que será fundamental na fase de aprendizagem da fala. Também ao mamar, a criança realiza movimentos de sensibilização do palato (céu da boca), contração e relaxamento dos órgãos móveis da face como a língua, lábios, mandíbula e bochechas. Ela vai conjugando equilibradamente as forças musculares da face e da mandíbula. Esta última vai deslocando-se para frente, pois ao nascer apresenta-se retraída, permitindo a passagem do bebê pelo canal vaginal durante o parto.

Os diversos sons emitidos durante a metade do segundo mês até o terceiro, caracterizam a época do balbucio. Nessa fase a criança vai ganhando mais precisão nestes movimentos e articula sons variando ritmo e intensidade, que ganham significação na comunicação, sendo interpretados como desejo de comunicação, e devem ser incentivados pelos adultos. Por esses e outros motivos já bastante conhecidos é muito importante que a criança exercite-se mamando no peito e sugando a chupeta, de preferência ortodôntica, pois as estruturas da região oral estão em formação e necessitam de estimulação para desenvolvê-las harmoniosamente.

Aproximadamente aos seis meses o bebê inicia a imitação voluntária, isto é, a emissão de sons que se aproximam dos produzidos em nossa língua e que serão aperfeiçoados mais tarde. Ainda nessa época é introduzida à alimentação da criança uma dieta variada com alimentos mais consistentes, pois a musculatura já está apta a desenvolver novos padrões de fala e mastigação. Em geral, é nesta fase que ocorre o desmame do bebê e ele amplia suas relações com o mundo. No período dos seis aos sete meses apresentam um balbucio altamente dife a fase posterior, o retardar do desmame prejudica o desenvolvimento da fala, fixando a sucção, mantendo padrões inadequados de língua, lábios para a mastigação e fala, que são funções aprendidas devendo portanto ser estimuladas.

Alguns cuidados devem ser observados pelos responsáveis para prevenir alterações neste campo, como verificar a postura da criança ao dormir, evitando o descanso das mãos sob a face, a obstrução nasal crônica, lábios entreabertos, entre outras coisas, para que não haja deformações faciais que alterem a oclusão dentária ou padrão respiratório nasal. Evitar patologias auditivas que prejudicam a discriminação dos sons, verificar se o furo da mamadeira apresenta tamanho adequado, assim como posicionar a mamadeira não muito verticalizada para exigir do bebê o exercício da sucção e não apenas a deglutição.

O hábito vicioso de chupar o dedo, chupeta, assim como de outros objetos, deve ser evitado após os 6 meses de idade. Se nos primeiros anos de vida a musculatura da face for erradamente modelada com estes vícios podem ocorrer deformações como flacidez labial, encurtamento do lábio superior, flacidez lingual que provoca mau posicionamento dos dentes na arcada durante o seu aparecimento, aprofundamento do palato (céu da boca) com estreitamento da região nasal, aumento da produção da saliva e baba durante a noite, respiração bucal oferecendo pouca oxigenação cerebral com prejuízos na concentração da criança e conseqüentemente na aprendizagem. Há também uma maior suscetibilidade às doenças respiratórias de repetição que culminam na fixação de um padrão respiratório inadequado para fala, mastigação e deglutição, além, é claro, de ser anti-higiênico. Portanto, o falar está diretamente relacionado à saúde revelando as condições orgânicas existentes.

Somente a condição anatômica dos órgãos da fala não garantem sua boa dicção. É preciso considerar também o estímulo que a criança recebe para utilização destas estruturas. Alguns adultos reforçam as palavras ditas erradamente com um "estilo" infantil, o que significa dizer que "ensinam o errado " não dando chance à criança de perceber o correto. Muitas crianças apresentam boas condições orgânicas, porém, não têm necessidade de nomeação dos objetos, ações e pessoas pois são compreendidas por todos ao apontá-los. É muito comum a criança apontar e o adulto imediatamente traduzir ou atender seu desejo, desmotivando-a a experimentar uma construção verbal mais elaborada. É preciso controlar a ansiedade e aguardar sua solicitação não completando as frases para ela, inibindo assim a comunicação puramente gestual. Deve-se propiciar à criança experiências variadas como a nomeação de seus atos, objetos e partes do corpo sem auxiliá-las, apenas reforçando.

É muito importante que os pais estejam atentos ao desenvolvimento da fala na criança desde o seu nascimento e que esta seja acompanhada pelo fonoaudiológo periodicamente. A identificação precoce de alterações neste campo pode evitar o aparecimento de dificuldades de aprendizagem e, principalmente, das patologias fonoaudiológicas.

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Fonoaudióloga: Rosane Paiva da Silva.

Especializada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e terapia familiar no RJ. Presta Assessoria fonoaudi