Tabagismo: O Perigoso Hábito do Fumo

Dr. José Veloso Souto Junior
Drª Maria Aparecida Andrés Ribeiro

O que é tabagismo?
O que se esconde na fumaça do cigarro?
Porque as pessoas fumam?
A quem interessa o tabagismo?
Os não fumantes acabam fumando
Efeitos causados pelo fumo sobre a saúde
Doenças associadas ao uso do cigarro
Fatores de risco para a doença coronariana
Fumo e gravidez
Para saber mais


O que é tabagismo?

O termo tabagismo significa abuso do tabaco, como nos ensina Aurélio Buarque de Holanda. O tabaco é uma erva da família das solanáceas (Nicotiana tabacum), que possui nicotina e cujas folhas, quando dessecadas, constituem o fumo ou tabaco. Dele, as pessoas fazem uso de diversas maneiras: inalado (cigarro, cachimbo, charuto, cigarro de palha), aspirado (rapé) ou mascado (fumo-de-rolo).

Embora os produtos derivados do tabaco sejam consumidos há muitos séculos, somente no século XX observou-se acentuado aumento de seu consumo. Por volta de 1918, por exemplo, o consumo de cigarros já havia suplantado qualquer outra forma de utilização do tabaco, provavelmente por influência da Primeira Grande Guerra. Nos EUA, em 1990, foi estimado o consumo de 2.800 cigarros/ano por adulto.  Hoje, o cigarro é a forma mais importante de utilização do tabaco, tornado-se um sério problema de saúde pública tanto no Brasil como no mundo.

O que se esconde na fumaça do cigarro?

O cigarro contém uma mistura de cerca de 4.700 substâncias tóxicas. Parte delas é gasosa – incluindo o monóxido de carbono, e algumas são partículas, como o alcatrão, a nicotina e a água. O alcatrão, além dos radioativos urânio, polônio 210 e carbono 14, concentra 43 substâncias comprovadamente carcinogênicas, ou seja, que provocam o câncer, já que alteram o núcleo das células. 

A fumaça do cigarro contém toxinas que produzem irritação nos olhos, nariz e garganta, bem como diminuem a mobilidade dos cílios pulmonares, ocasionando alergia respiratória em fumantes e não-fumantes. Estes cílios, semelhantes a cabelos muito finos, são projeções da mucosa que ajudam a remover sujeiras e outros detritos do pulmão. Quando têm seus movimentos paralisados pela exposição à fumaça do cigarro, as secreções acumulam-se, contribuindo para a tosse ou pigarro típico do fumante e para o surgimento de infecções respiratórias, freqüentes em quem tem contato com a fumaça.

A fumaça do cigarro é também constituída por monóxido de carbono (CO), cuja concentração no sangue circulante de quem fuma aumenta rapidamente pela manhã, continua a subir durante o dia e decresce à noite. 

Aproximadamente, 3 a 6% da fumaça do cigarro são compostos por monóxido de carbono. Quando inalado, o monóxido de carbono atinge os pulmões e dali segue para o sangue, reduzindo sua capacidade de carregar oxigênio. Em conseqüência, as células deixam de respirar e produzir energia, o que faz com que o fumante tenha o fôlego prejudicado e fique exposto ao risco de doenças cardiovasculares e respiratórias. Além de venenoso em altas concentrações, o CO está implicado em muitas doenças associadas ao fumo, inclusive nos efeitos danosos sobre o desenvolvimento do feto das grávidas tabagistas.

A nicotina, outra das substâncias encontradas no cigarro, diminui a capacidade de circulação sangüínea, aumenta a deposição de gordura nas paredes dos vasos e sobrecarrega o coração, podendo levar ao infarto do miocárdio e ao câncer, mas seu papel mais importante é reforçar e potencializar a vontade de fumar. Ela atua da mesma forma que a cocaína, o álcool e a morfina, causando dependência e obrigando o fumante a usar continuamente o cigarro. Em altas concentrações, é também venenosa. 

Porque as pessoas fumam?

As pessoas começam a fumar principalmente por hábito cultural e influência da publicidade do cigarro nos meios de comunicação de massa. Pais, professores, ídolos e amigos também exercem grande influência. A publicidade alia as demandas sociais e as fantasias dos diferentes grupos – adolescentes, mulheres, faixas economicamente mais pobres – ao uso do cigarro, fazendo-os crer que, ao fumar, seus desejos e expectativas sociais serão realizados, aumentando, assim, o consumo do tabaco entre as pessoas mais facilmente influenciáveis. 

A publicidade direta é feita por anúncios atraentes e extremamente bem produzidos; já a indireta apela aos ídolos e pessoas famosas, tomadas com modelos de comportamento em geral. Entretanto, faz-se necessário considerar os efeitos excitantes e antidepressivos do cigarro. Certamente, este não seria um hábito tão arraigado se também não tivesse um aspecto "positivo" para o fumante, ao menos aparentemente. Porém, deve-se ponderar que há muitos outros modos de obtenção dos mesmo efeitos sem as seqüelas indesejáveis que o tabagismo necessariamente acarreta.

A quem interessa o tabagismo?

Noventa por cento dos fumantes iniciaram o consumo de tabaco antes dos 21 anos de idade, fase em que o indivíduo ainda está construindo sua personalidade. O número constante ou mesmo crescente de adesões ao tabagismo contribui para que a indústria do cigarro seja altamente lucrativa, investindo constantemente em publicidade, a fim de atrair mais e mais pessoas. Fumantes morrem em decorrência das doenças relacionadas ao tabaco; outros, alertados sobre os malefícios do fumo, conseguem abandonar o vício. 

No entanto, do ponto de vista da indústria, esses consumidores têm que ser constantemente substituídos por novos, o que estimula o constante investimento publicitário. Desta forma, configura-se um ciclo onde o aumento do consumo traz lucros tanto à indústria como às empresas de publicidade. Pesquisas evidenciam as perdas econômicas causadas pelo cigarro em fumantes e não-fumantes, tais como: 

  • faltas ao trabalho;
  • queda de produtividade;
  • aposentadorias precoces;
  • mortes prematuras;
  • custos com a manutenção de imóveis, aparelhagens, móveis, tapetes, cortinas, etc. danificados;
  • incêndios rurais e urbanos;
  • acidentes de trabalho;
  • acidentes de trânsito.
Ressalte-se que a totalidade dos gastos sociais decorrentes do tabagismo supera em muito a arrecadação de impostos que ele proporciona: o câncer, segunda causa de morte por doença no país, é responsável por grandes gastos com tratamentos e internações hospitalares, uma vez que 90% dos cânceres de pulmão e 30% de todos os outros tipos de câncer são devidos ao tabagismo. As doenças cardiovasculares, primeira causa de morte no país, bem como a bronquite crônica e o enfisema, estão diretamente relacionadas ao uso de tabaco e geram importantes gastos na área da saúde. Apenas estes dois exemplos nos dão a dimensão das perdas econômicas geradas pelo tabagismo, aliados à queda na qualidade de vida do trabalhador. 

Paralelamente, ainda existem os gastos economicamente não mensuráveis, como a dor, o sofrimento pessoal e familiar dos vitimados - nem sempre considerados.

Os não-fumantes acabam fumando

Os fumantes não são os únicos expostos aos males do cigarro. Também os não-fumantes são atingidos, já que passam a ser fumantes passivos. Onde quer que alguém esteja fumando, são encontradas partículas da fumaça do cigarro, principalmente em locais fechados, residenciais ou públicos. Rapidamente, as concentrações das substâncias tóxicas da fumaça excedem os níveis considerados padrões para a qualidade do ar ambiente.

O cigarro é considerado pela Organização Mundial da Saúde – OMS – como o maior agente de poluição doméstica e ambiental, tendo em vista que as pessoas passam 80% de seu tempo diário em locais fechados, tais como os de trabalho, residência e lazer. Atualmente, por todo o mundo, cada vez mais as autoridades governamentais têm estabelecido regulamentos e leis de proteção aos não-fumantes; além disso, há crescente aumento da conscientização dos indivíduos sobre a qualidade do ar que respiram, não só em casa, como nos ambientes de trabalho e locais públicos. 

Também no Brasil, progressivamente, surgem leis em nível estadual e municipal preservando os direitos dos não-fumantes, o que mostra avanço na conscientização das autoridades no que tange à poluição tabágica ambiental. 

A qualidade do ar que respiramos é fundamental para nossa saúde, bem como para o bom desempenho de nossas funções cotidianas. A permanência em um ambiente poluído com nicotina faz com que absorvamos substâncias em concentrações semelhantes às de quem fuma. Tal comprovação é realizada através da medição da cotitina, principal produto da decomposição da nicotina - substância que pode ser encontrada no sangue e na urina dos não-fumantes que moram, convivem ou trabalham com fumantes.
 

Efeitos Causados Pelo Fumo sobre a Saúde
A curto prazo A médio e longo prazos
· Irritação nos olhos · Redução da capacidade respiratória
· Manifestações nasais · Infecções respiratórias em crianças
· Tosse e cefaléia · Aumento do risco de aterosclerose
· Aumento dos problemas alérgicos e cardíacos · Câncer 
· Infarto do miocárdio

       Os fumantes ativos e passivos sofrem os efeitos imediatos da poluição ambiental, tais como irritação nos olhos, manifestações nasais como entupimentos e coriza, tosse, cefaléia, aumento de problemas alérgicos (principalmente das vias respiratórias) e cardíacos (principalmente elevação da pressão arterial e angina ou dor no peito).

        Outros efeitos de médio e longo prazos são a redução da capacidade funcional respiratória (ou seja, o pulmão é cada vez menos capaz de exercer a sua função), o aumento do risco de ter aterosclerose (depósito de gorduras nas artérias) e o aumento do número de infecções respiratórias em crianças. Além disso, os fumantes passivos morrem duas vezes mais por câncer de pulmão do que as pessoas não submetidas à poluição tabágica.

        As crianças, principalmente as de baixa idade, são particularmente prejudicadas em sua convivência diária com fumantes. Nas de zero a um ano, em comparação com aquelas cujos familiares não fumam, ocorre maior incidência de problemas respiratórios como bronquites e pneumonia. 

Observa-se que quanto maior for o número de fumantes no domicílio, maior será o número de infecções respiratórias nos moradores, principalmente nas crianças. Assim, é fundamental que os adultos não fumem em locais onde haja crianças, para que não as tornem fumantes passivos.
 

Doenças associadas ao uso do cigarro
· Doenças coronarianas (25%)

Angina e infarto

· Doenças pulmonares obstrutivas crônicas - DPOC (85%)

Bronquite e enfisema

· Câncer em geral (30%)
Pulmão (90%), boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero
· Doenças cerebrovasculares (25%)

Derrame cerebral

· Úlceras digestivas
· Infecções respiratórias variadas

       No Brasil, estima-se, anualmente, a morte precoce de 80 mil pessoas em virtude do tabagismo, número esse que vem aumentando ano a ano. Em outras palavras, cerca de 10 brasileiros morrem por hora por causa do cigarro, sendo o câncer a principal causa de morte. 

Pulmões de um fumante. Além de estar enegrecido pelo fumo, o pulmão da esquerda tem enfisema. O pulmão da esquerda tem câncer.

        Os fumantes têm 10 vezes mais chances de morrer de câncer de pulmão do que os não-fumantes. Em 98% dos tabagistas são encontradas, na mucosa que reveste os brônquios, alterações compatíveis com o câncer de pulmão. A chance de se ter câncer diminui quando se pára de fumar e, após 15 anos sem fazer uso do tabaco, os ex-fumantes voltam a apresentar características semelhantes àquelas dos que nunca fumaram.

        Os fumantes têm ainda maior probabilidade de morrer por doença coronariana, especialmente os fumantes jovens. Provavelmente, o tabagismo é responsável por aproximadamente 45% dos óbitos por doença coronariana nos homens com menos de 65 anos de idade; e por mais de 25% nos de idade superior a 65 anos. Além disso, os fumantes do sexo masculino entre 45 e 54 anos de idade têm quase três vezes maior probabilidade de morrer de infarto do que os não-fumantes da mesma faixa etária.
 
Fatores de risco para a doença coronariana
· o tabagismo
· a hipertensão arterial (pressão alta)
· o colesterol alterado
O tabagismo, isoladamente, duplica a possibilidade de doença cardíaca. Entretanto, associado à alteração do colesterol ou à hipertensão, multiplica esse risco por 4.

O risco torna-se 8 vezes maior quando os três fatores se associam.

       Por sua vez, mulheres jovens, que usam anticoncepcionais orais e fumam, têm, em relação as não-fumantes, 10 vezes maior risco de infarto do miocárdio, embolia pulmonar e tromboflebite. 

        A bronquite crônica e o enfisema são tipos de doenças pulmonares obstrutivas crônicas, ou seja, doenças que dificultam a passagem de ar no pulmão. Caracterizam-se por tosse, expectoração e falta de ar, prejudicando em muito a qualidade de vida. O enfisema ocorre mais freqüentemente em homens, mas sua taxa de mortalidade vem aumentando entre as mulheres, provavelmente devido ao aumento do número de fumantes do sexo feminino.

        Os acidentes vasculares cerebrais, mais comumente conhecidos como derrames cerebrais, resultam de um sangramento dentro do cérebro, levando à paralisia do corpo e, muitas vezes, ao estado de coma e à morte. As mulheres apresentam maior probabilidade para o derrame, mas os fumantes, de ambos os sexos, têm um risco duas a três vezes maior que os não-fumantes.

Fumo e gravidez

Fumar durante a gravidez acarreta sérios riscos tanto para o bebê quanto para a mãe. Abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e hemorragias ocorrem mais freqüentemente quando a mulher grávida fuma. Tais agravos são devidos, principalmente, aos efeitos do monóxido de carbono e da nicotina sobre o feto, após sua absorção pelo organismo materno. Um único cigarro fumado por uma gestante é capaz de acelerar, em poucos minutos, os batimentos cardíacos do feto, pelo efeito da nicotina em seu aparelho cardiovascular. 

Portanto, é fácil imaginar a extensão dos danos causados ao feto em virtude do tabagismo da mãe gestante. Analiticamente, a relação do poder aquisitivo com o consumo de cigarros mostra que há menor consumo nas classes de maior rendimento familiar. Contraditoriamente, a população de menor renda - e que costuma ter a saúde mais frágil – é a que mais gasta com cigarro, em detrimento de itens prioritários como, por exemplo, a alimentação. Em grande parte, essa diferença é causada pela maior desinformação das classes economicamente mais pobres. 

É importante notar que este maior consumo de tabaco, somado a condições como desnutrição, doenças infecciosas e do trabalho, leva a um adoecimento mais freqüente e agravado. Convém lembrar, ainda, que os ambientes confinados das pequenas moradias favorece sobremaneira a inalação passiva das substâncias tóxicas por crianças, gestantes e doentes.
 

Para Saber Mais

Coração - Cuidado com o Infarto
Hipertensão Arterial. E agora? 
Câncer
 



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