Dr.
João Batista Magro Filho
É bastante freqüente entre os brasileiros o hábito de tomar medicamentos por conta própria, quer seja por orientação ou sugestão de amigos ou pessoas não habilitadas a receitar, quer seja sem prescrição médica. Na área de saúde, esse procedimento chama-se automedicação – que quer dizer "medicar-se a si mesmo". Para que as pessoas entendam os riscos e perigos que correm ao automedicar-se seria interessante que tivessem informações e conhecessem os problemas que essa atitude errada e imprudente podem causar à saúde. Atualmente, a intoxicação por medicamentos é uma das ocorrências mais comuns - em 1998, por exemplo, o Centro de Assistência Toxicológica (CEATOX), órgão da estrutura organizacional da Universidade de São Paulo (USP), registrou 3.211 casos de intoxicação, dos quais cerca de 40% provocados por uso de medicamentos. Os farmacêuticos consideram que grande parcela desses casos são resultantes da automedicação praticada no país, ou seja, do uso indevido de medicamentos sem orientação médica. Na opinião da Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEFAR), esses altos índices só poderão ser reduzidos, significativamente, quando os farmacêuticos estiverem atrás dos balcões das farmácias, atendendo aos usuários, conforme estabelece a legislação. Segundo pronunciamento do coordenador da instituição, "o farmacêutico tem a capacidade técnica de esclarecer ao paciente sobre o uso do medicamento e de evitar que ele seja vítima da estimulação da indústria." Situação atualSegundo dados da Organização Mundial da Saúde - OMS e do Ministério da Saúde, o mercado brasileiro dispõe de mais de 32 mil medicamentos – motivo pelo qual o Brasil situa-se em sexto lugar entre os países consumidores de medicamentos, respondendo por R$ 14,3 bilhões dos 529 bilhões movimentados no mercado mundial de medicamentos. No entanto, é concreta a consideração de que para tratar as mais diversas doenças cerca de 420 produtos seriam suficientes. Essa informação é reforçada pelos seguintes aspectos: 75% dos antibióticos são prescritos pela área médica de forma inadequada e 90% dos consumidores não compram as doses indicadas.Visando coibir os excessos das farmácias, desde 1993 foi aprovada uma lei regulamentando esse assunto - legislação não cumprida pela maioria delas. Por que o brasileiro se medica com tanta facilidadeA liberdade que as indústrias têm em veicular pela mídia propagandas sem nenhuma avaliação prévia ou controle, a facilidade com que os consumidores adquirem remédios e a grande variedade desses produtos nas prateleiras das farmácias e drogarias possibilita que as pessoas se "consultem" nas próprias farmácias, com seus amigos e parentes, e até mesmo comprem os remédios que julgam necessitar, sem consulta médica - esta facilidade dificulta enormemente o adequado e necessário controle.
Para os adeptos da automedicação, os xarope, analgésicos, gotas nasais e laxantes encontrados nas prateleiras das farmácias parecem convidativos, sem nenhum perigo, "inofensivos". Porém, está comprovado que a utilização indevida de medicamentos para dor, febre ou resfriado pode provocar sérios prejuízos à saúde das pessoas. Um mesmo remédio, com dosagem idêntica, usado durante o mesmo período de tempo por duas pessoas diferentes, pode dar excelentes resultados para uma delas e não surtir efeito na outra. Por isso, tendo o conhecimento sobre as doenças e sua cura, as técnicas de tratamento e o treinamento adequado apenas o médico pode analisar as condições físicas do paciente e opinar sobre os benefícios e riscos apresentados pelos medicamentos. Por sua vez, os remédios da alopatia, homeopatia, florais de Bach e outros florais, a fitoterapia ou qualquer outro tipo de medicamentos, podem provocar efeitos colaterais, muitas vezes irreversíveis. Remédios populares e caseiros também podem prejudicar o organismo, se utilizados de forma incorreta. No Brasil, o problema da automedicação está se tornando tão grave que o Ministério da Saúde estuda a possibilidade de realizar uma campanha nacional sobre o uso racional de medicamentos - visando conscientizar as pessoas para que evitem consumir remédios sem orientação médica. Como a automedicação tem sérias implicações, uma indicação malfeita ou o uso incorreto de um medicamento pode não dar o resultado esperado, bem como aumentar a resistência das bactérias aos antibióticos. Além disso, a pessoa pode apresentar alergia a determinados ingredientes da fórmula medicamentosa e, em conseqüência, desenvolver uma intoxicação. Conforme o produto, até mesmo associando-se determinados alimentos aos remédios esses poderão prejudicar a saúde. Exemplos da automedicação são facilmente encontrados: a pessoa que, julgando estar com gripe, faz uso de remédios impróprios e acaba sendo internada com um quadro de infecção generalizada ou intoxicação; atletas que utilizam produtos importados com o objetivo de ganhar massa muscular – neste último caso, os remédios ingeridos são hormônios considerados em outros países como suplementos alimentares e que, no Brasil, são comercializados como medicamentos. Ressalte-se que esses produtos ainda não tiveram analisados os seus efeitos a longo prazo, principalmente em relação à segurança de uso. Portanto, quem os utiliza não sabe o que realmente está consumindo, e ficam exposto a riscos de doenças futuras. O ideal seria
que as pessoas não se automedicassem, uma vez que a vida saudável
não está no balcão da farmácia, mas sim nos
cuidados de higiene pessoal e ambiental, hábitos sadios e qualidade
de vida. A prática de esportes, caminhadas, alimentação
balanceada, lazer e descanso dão mais sabor e qualidade à
vida humana do que qualquer remédio.
Informações geraisOs remédios agem no organismo de duas formas distintas: com uma ação local no estômago e uma ação sistêmica. Isto significar que quanto mais se toma remédios, maior é o risco de se ter uma irritação ou mesmo uma hemorragia no estômago – o que é facilmente percebido no uso indiscriminado da aspirina, por pessoas que buscam prevenir infartos ou outras doenças cardiovasculares. Por sua vez, o uso da vitamina A em doses altas e por longo período pode ocasionar distúrbios neurológicos. Muitos estudiosos afirmam que o efeito da vitamina B é nulo. Os remédios antiestresse são, na sua maioria, suplementos vitamínicos de zinco, bons apenas para a cicatrização.Caso haja propensão, o uso de antibióticos pode causar alergia, irritação no estômago e modificação da flora intestinal; além disso algumas bactérias que estão no organismo humano podem se tornar resistentes aos antibióticos e levar a pessoa a adquirir uma infecção bacteriana através de um agente infeccioso, o que é muito grave. Crianças, mulheres grávidas e idosos necessitam de cuidados especiais com os medicamentos: as crianças pela constituição física, ainda em formação; as grávidas pelo fato de estarem gerando uma nova vida, onde a autoingestão de remédios pode vir a prejudicar o feto; os idosos devido à sua constituição física mais frágil e vulnerável. Os doentes ou aqueles que fazem tratamento médico mais longo e são portadores de doenças mais graves, em hipótese alguma podem se automedicar. Quem realmente
quer cuidar de sua saúde deve praticar atividades físicas
e adquirir bons hábitos alimentares - e quando observar que um sintoma
está se tornando constante, deve fazer uma avaliação
médica.
Lembretes importantes
Os materiais educativos desta seção podem ser reproduzidos no todo ou em parte, sem necessidade de autorização prévia do Ministério da Saúde. CONVÊNIO FUNDEP/UFMG
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