Parto normal e cesárea:
Preparando-se para o nascimento

Dr. Alberto Olavo Advincula Reis e 
Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro

 

O parto é o momento maior de todo o processo da gravidez. A partir dele, os pais passam a experimentar, de modo real, tudo o que idealizaram a respeito de seu filho, já que a chegada do bebê modificará concretamente as suas próprias vidas. Além de ser o resultado de todo um esforço de aprendizagem realizado no período pré-natal, o parto marca também o início de uma série de novas tarefas e cuidados a serem tomados com a criança, principalmente no primeiro mês de vida. 

Assim, o casal deve, desde o início da gravidez, preparar-se para que o momento do parto seja um acontecimento ao mesmo tempo tranqüilo e grandioso. 

A preparação do corpo

Preparar-se é, antes de tudo, informar-se, participar, colaborar. Muitas mulheres temem o parto, por achar que vai doer. Dúvidas e medos, porém, todas têm. Por isso, é importante divulgar que no momento do parto algumas substâncias naturais produzidas pelo corpo agem como um anestésico, diminuindo a sensação de dor. Uma mulher bem preparada terá certamente um melhor parto e mais disposição para cuidar de seu bebê; além disso, estando .tranqüila e compreendendo o que irá ocorrer colaborará, suportará melhor e sentirá menos dor do que uma pessoa apavorada, tensa ou assustada, que ignora o que está acontecendo.

A mulher deve realizar um bom pré-natal e tentar, na medida do possível, manter-se tranqüila durante a gestação, evitando aborrecimentos e preocupações. Precisa descansar muito e alimentar-se bem, mas sem exageros. Seus amigos e familiares devem cuidar para que tenha carinho e apoio, pois isso é fundamental.

Na preparação para facilitar o futuro parto, os exercícios físicos têm especial. relevância. Existem exercícios e movimentos que melhoram a capacidade respiratória e ajudam a relaxar a musculatura corporal, aliviando a dor e ajudando na boa condução dos trabalhos na hora do parto. 

Assim, durante toda a gestação, e sobretudo nos últimos meses, a grávida pode e deve ser preparada através da prática de ginásticas de relaxamento e exercícios de respiração. Entre as técnicas disponíveis, os exercícios de ioga são ideais para essa finalidade, por conjugarem os aspectos respiratórios a movimentos corporais suaves e bem dosados de alongamento e relaxamento. Mas qualquer que seja o método ou técnica escolhido, o importante é ressaltar que os exercícios devem ser apropriados para gestantes. 

A grávida que for se exercitar deverá, sempre que possível, ser orientada por profissional bem preparado, que lhe prescreverá atividades físicas adequadas ao seu modo de ser e à evolução de sua gravidez  

Está chegando a hora

É comum que as mulheres (principalmente as que vão ser mães pela primeira vez), seus companheiros e familiares tenham a preocupação de saber que sinal indica o momento da chegada do bebê, quer o parto venha a ser realizado em casa, maternidade, hospital ou serviço de saúde. Por mais que lhes seja explicado, isto permanece uma espécie de mistério.

O sinal mais comum é quando, no final da gravidez - ou seja, em torno de 40 semanas de gestação -, a gestante sente que sua barriga baixou: experimenta uma sensação maior de peso na parte mais baixa da barriga e um alívio em cima, na base dos seios, o que lhe dá a impressão de poder respirar com mais facilidade.

A partir desse instante ela pode começar a sentir dores parecidas com as cólicas menstruais - que começam bem espaçadas e, com o tempo, vão ficando mais próximas e se transformando em verdadeiras contrações periódicas. Cada vez que ocorre uma contração, a barriga fica dura. As contrações tornam-se cada vez mais fortes e mais próximas umas das outras - isto sinaliza que o corpo já está se preparando para o parto e que o bebê está se preparando para nascer. 

Para algumas mulheres, o primeiro sinal de que a hora está chegando é a perda do "tampão" Trata-se de um corrimento com aspecto de muco grosso, com um pouco de sangue, que de repente sai pela vagina da mulher. Pode ocorrer, também, a ruptura da bolsa d’água que envolve o bebê. Em muitos casos, este rompimento acontece logo após o início das primeiras contrações, e a mulher sente um líquido quente escorrer por suas pernas. 

Normalmente, portanto, os sinais que indicam que a grávida deve providenciar sua ida para o hospital ou maternidade são:

  • contrações freqüentes,
  • ruptura da bolsa d’água,
  • perda do "tampão"
  • barriga muito baixa.
Em locais onde não exista hospital ou maternidade, a família deve providenciar a vinda de uma parteira, enfermeira ou agente comunitário de saúde treinado para ajudar no parto doméstico. 

No caso de parto hospitalar, a grávida deve ter em mãos sua carteira de identidade e o Cartão da Gestante, no qual estão registradas todas as suas consultas e exames. É bom que já tenha previamente preparado, numa bolsa ou sacola, tudo o que necessitará levar para a estada na maternidade: roupas e objetos de uso pessoal (camisola, quimono, chinelo, absorvente, toalha, xampu, sabonete, escova e pasta de dentes, pente ou escova), e as do bebê (fraldas, sabonete, uma toalhinha de banho, camisetas de "pagão" e macacõezinhos).

A hora do parto

Após um pré-natal bem feito, estando bem preparada tanto física quanto psicologicamente e podendo contar com o apoio do marido - ou companheiro - e da família, a mulher está pronta para ter seu bebê da melhor maneira possível. Afinal, essa é a justa recompensa por tantos meses de cuidados, preparações e carinhos!

Na hora do parto, a pessoa mais importante e ativa é a mulher. O médico, a enfermeira, a parteira e os vários profissionais de saúde estarão lá apenas para ajudá-la. A maioria das gestantes – entre 70 e 80% - pode ter parto normal, que, como o próprio nome indica, é um parto espontâneo e natural, que não precisa ser estimulado artificialmente e ocorre no período certo, ou seja, entre a 37a e 42a semana de gravidez. 

No entanto, dependendo das circunstâncias, algumas mulheres necessitam de intervenção cirúrgica. Nesses casos, a alternativa disponível é o parto cesáreo ou cesariana. A cesariana é uma operação ou cirurgia que, através de um corte na barriga da mãe, possibilita que o bebê seja retirado do útero - ao invés de nascer naturalmente, passando pelo colo do útero e vagina. 

Uma série de razões pode indicar a necessidade de um parto por cesariana, por exemplo: 

  • o bebê está mal posicionado dentro da barriga da mãe;
  • as contrações ou a dilatação do útero não são suficientes para que ocorra o parto normal;
  • há sinal de sofrimento do feto ainda na barriga da mãe; 
  • a mãe apresenta doença sexualmente transmissível, como a AIDS ou herpes genital;
  • ou, ainda, algum outro motivo que venha a complicar ou comprometer o bom andamento do parto. 
Assim, a cesariana ou cesárea é um recurso que permite realizar ou finalizar o parto a contento, quando a mãe ou a criança estejam correndo algum risco, na hora do nascimento do bebê. Nesse sentido, a cesariana é um ótimo (e às vezes o único) recurso disponível para proteger, ao mesmo tempo, a vida e a saúde da mãe e da criança, permitindo um parto sem maiores transtornos. 

Em todo este processo é muito importante a presença e o apoio do pai do bebê, ajudando a mulher, dando-lhe carinho – o que realça sua relação afetiva tanto com o bebê quanto com sua esposa. 

Antes de sair do hospital, a mãe receberá uma declaração de nascimento da criança, contendo dados como hora, local do nascimento e outras informações importantes. Caso o bebê nasça em casa, será preciso providenciar esta declaração num serviço de saúde ou hospital próximo, pois ela é necessária para o registro da criança no Cartório. 

O abuso das cesarianas

Com relação às cesarianas, que deveriam ser utilizadas apenas nas ocasiões de risco ou de necessidade tanto para a mãe quanto para o bebê, há, atualmente, um verdadeiro abuso. Elas hoje representam quase a metade - 40% - dos partos realizados nas grandes cidades brasileiras - em alguns lugares do país chegam a representar 77%.

Entretanto, algumas mães exigem a cesariana por medo de sentir as dores do parto normal. Acontece que elas não sabem ou desconsideram que esse tipo de intervenção tem inconvenientes e desvantagens em comparação com o parto normal. É importante lembrar-se que trata-se de uma cirurgia, que não é das menores nem das mais simples, implicando nos riscos de qualquer operação, o que sempre supõe anestesia, cortes, sangramentos, suturas, cicatrizações, administração de medicamentos. Obrigatoriamente, é realizada em hospital, o que introduz o risco da infecção hospitalar tanto para a mãe como para o bebê. Após a cesariana, há um período pós-cirúrgico em que ocorrem dores, principalmente pela formação de gases abdominais e pela cicatrização. Assim, se as mulheres pretendem fugir de dores e problemas, podem estar correndo na direção errada ao escolherem as cesarianas desnecessariamente. 

E não somente para a mãe a cesárea oferece riscos. Também podem ocorrer complicações para o bebê, pois as crianças nascidas através de cesáreas apresentam maior risco de problemas respiratórios e de sentir os efeitos das drogas e remédios administrados à mãe quando da realização da operação. 

Convém lembrar, ainda, que o estudo dos casos de complicações e mortes pós-parto demonstra que as mulheres que fizeram cesariana incorrem em 6 a 7 vezes mais complicações do que aquelas que tiveram parto normal. Por sua vez, os bebês nascidos de cesariana incorrem em risco 3 vezes maior de morte por complicações pós-parto do que os nascidos por parto normal.

Além do mais, nessa questão não estão em jogo apenas aspectos médicos e físicos. O fator econômico também tem seu peso para desaconselhar as cesarianas desnecesssárias, pois a cesariana é muito mais cara do que o parto normal. 

Com o parto normal, a recuperação da mulher é mais rápida e o contato com o bebê acontece de modo mais intenso, facilitando o apego da criança à mãe. Se tudo correr bem, a mãe e o bebê ficam no hospital, em média, por um período entre 24 e 48 horas apenas, enquanto na cesárea este período é de 48 a 72 horas.

Ressalte-se que no parto normal o útero e a vagina voltam mais rapidamente ao estado anterior à gravidez. O fato de a mãe amamentar seu filho já nas primeiras horas facilita a volta do útero ao tamanho normal, além de ser excelente para a saúde do bebê. 


Convênio: Ministério da Saúde/Fundep – Universidade Federal de Minas Gerais

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