Envelhecendo com Saúde 

Dr. Cornelis Johannes van Stralen 
Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro 

 
Você já percebeu que há cada vez mais idosos nas ruas? Se você mora numa cidade pequena do interior, pode achar que isto se deve ao fato de os jovens migrarem para as cidades maiores em busca de emprego. Porém, nas cidades grandes acontece a mesma coisa: há cada vez mais idosos nos ônibus, parques, praças e, também, nos centros, postos de saúde e hospitais. 

Se ampliarmos esta visão para o mundo, veremos que esse fenômeno repete-se em todas as partes. Um dos principais motivos para o aumento do número de idosos resulta do que os especialistas chamam de queda de fecundidade, isto é, atualmente nascem bem menos crianças do que no passado. Mas não só isso: hoje também ocorre uma queda nas taxas de mortalidade, ou seja, as pessoas estão vivendo mais tempo e, conseqüentemente, morrendo mais tarde. Esse aumento da expectativa de vida decorre da melhoria nas condições gerais: as pessoas estão se cuidando, se alimentando melhor e tendo mais educação; além disso, moram em lugares com água canalizada e esgoto, têm melhores condições de trabalho e mais acesso a serviços de saúde. O somatório de todos esses fatores faz com que atinjam idades mais avançadas.
 

Mitos sobre os idosos

Em nossa sociedade existem muitos preconceitos a respeito dos mais velhos. Há quem pense que todos são iguais: gente encurvada, que anda devagar demais, que é frágil e demora para atravessar a rua; que nos faz perder a paciência, porque sequer sabe como funciona o caixa automático de um banco, e que repete até cansar que antigamente tudo era melhor. Gente que já fez, mas que hoje tornou-se apenas um peso para a família.

Como parte de uma campanha mundial para valorizar o envelhecimento ativo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma cartilha onde são listados os seis mitos mais comuns sobre os idosos - que não correspondem à realidade ou à verdade. São eles:

  • A maioria dos idosos residem em países ricos e desenvolvidos, onde há muito as condições de vida são boas. Que lá se vive melhor, isto é inegável. No entanto, mais da metade do total de idosos do mundo vive, hoje, nos países em desenvolvimento ou nos países pobres; 
  • Muitos pensam que os idosos são todos iguais. Isto também não é verdade. A saúde e a qualidade de vida na velhice dependem tanto da herança genética quanto dos hábitos adotados no decorrer da existência, e também das condições sociais em que as pessoas vivem. E todos estes elementos diferem muito;
  • Há quem imagine que homens e mulheres envelhecem da mesma forma. Nem sempre: as mulheres tendem a viver mais - isso acontece, em parte, porque os hormônios femininos as protegem contra as doenças cardiovasculares. No entanto, o fato de trabalharem dentro e fora de casa, a tensão maior causada pelos problemas e responsabilidades familiares e a discriminação social que sofrem podem anular essa vantagem relativa;
  • A idéia de que os idosos são muito frágeis também não se sustenta. A grande maioria deles permanece bem fisicamente e com grande capacidade funcional, podendo desempenhar inúmeras tarefas cotidianas e participar normalmente da vida em comunidade;
  • Pensar que os idosos não têm mais com o que contribuir é também um engano e um preconceito. Eles podem, e muitas vezes desejam, oferecer inúmeras contribuições à família, à sociedade e à economia, desde diversos trabalhos voluntários até colaborações no setor de trabalho informal. Sua experiência, tanto de vida como profissional, não se compara a de outras idades;
  • Finalmente, há quem diga que os idosos são um peso para a economia. Esta crença, baseada na menor participação dos mesmos no mercado de trabalho e da sobrecarga nos sistemas previdenciários de todo o mundo, obscurece a realidade de que vários idosos continuam trabalhando até a idade avançada para evitar a miséria e melhorar a saúde. Adicionalmente, esse preconceito tem impedido a contratação e a colaboração dos idosos em várias ocupações importantes, que poderiam ajudar a minorar os problemas da sociedade.

As mudanças da idade

Os idosos de hoje nos mostram como seremos amanhã. Mas prestando atenção você perceberá que eles apresentam muitas diferenças: há gente velha bem disposta e em boas condições de saúde; há também gente velha acabada, cansada e com muitos problemas de saúde - em muitos casos isto acontece porque sofreram a dureza da vida: não tiveram condições para se alimentar bem, descansar quando necessário, praticar esportes ou se tratar adequadamente, quando doentes. Outras vezes, não se cuidaram quando mais jovens: bebiam e fumavam muito, não praticavam atividades físicas, não descansavam o suficiente e não cuidavam bem do próprio corpo - nem da mente.

Os idosos apresentam mudanças normalmente trazidas pela velhice: pele mais ressecada, muitas rugas e cabelos brancos. O coração não mais tem a mesma eficiência; pode haver acúmulo de gorduras nas artérias e nas veias, dificultando a circulação; os pulmões não mais conseguem manter o mesmo nível de atividade de antes, porque perdem a elasticidade. Assim, a pessoa começa a sentir a capacidade física decrescer.

Outra alteração é a diminuição progressiva da visão e audição. A visão começa a piorar após os 40 anos, mas o correto uso de óculos ou lentes de contato resolve a maior parte dos problemas. A audição diminui, e a pessoa às vezes confunde o som de algumas palavras. Essa baixa de audição pode provocar outros problemas: não escutando bem, o idoso começa a se isolar e, passando a não se comunicar com parentes e amigos, pode ficar triste ou deprimido - por isso, é importante dar atenção às pessoas idosas e conversar sempre com elas. 

Os mais jovens costumam achar que os idosos não têm mais vida sexual. Ocorrem mudanças, mas nada que lhes impeça fazer sexo com prazer e amor, o que lhes é muito benéfico. As visitas periódicas ao serviço de saúde ou ao médico poderão ajudá-los a ter uma melhor vida sexual, mantendo sob controle os problemas próprios da idade.

Uma outra mudança comum é a perda da memória. A esse respeito, um fato curioso: você já percebeu que os idosos conseguem lembrar-se de fatos ocorridos há muitos anos, mas têm dificuldade em lembrar coisas recentes? 

Até este momento chamamos atenção apenas para as alterações físicas e biológicas normais que acontecem com o passar dos anos. No entanto, o que mais afeta as pessoas idosas são as mudanças de papel na sociedade, que podem estar relacionadas com a diminuição da capacidade física, mas muitas vezes também com o preconceito. Na família, os filhos saem de casa e vão em busca de sua própria vida. No trabalho, pessoas mais velhas cedem lugar às mais novas. Ou são aposentadas, perdendo o contato com os companheiros de trabalho. Todas estas mudanças podem gerar problemas para a pessoa, que pode sentir-se desvalorizada ou inútil, abandonada e sozinha. 

A saúde do idoso

Os idosos constituem o principal grupo etário de internações/ano em hospitais. Além disso, o número de dias de hospitalação é maior que o das demais faixas etárias. Isso nos leva a pressupor que as pessoas ficam mais doentes à medida que ficam mais velhas. Em geral, isso é verdade: há mais casos de diabetes, câncer e doenças circulatórias e do coração entre os idosos. Entretanto, envelhecer por si só não é adoecer. O idoso não está condenado a ficar doente apenas por ter mais idade. E nem todos os idosos adoecem com freqüência. É preciso distinguir entre o que é doença e o que é próprio da velhice, com suas transformações naturais. 
        
Convém lembrar que muitas doenças dos idosos - e não só deles - podem ser prevenidas através de uma melhoria no estilo de vida. Assim, deixar de fumar e de consumir bebidas alcoólicas, praticar esportes ou outras atividades físicas, ter uma dieta saudável, balanceada e com pouco sal, e gozar de boas horas de repouso são receitas que conduzem à saúde e servem tanto para velhos quanto para moços. 
        
Geralmente, os problemas de saúde mais comuns entre os idosos podem ser bem controlados, permitindo-lhes uma vida normal. Alguns deles podem ser resolvidos apenas com a introdução de um andamento mais lento nas atividades diárias, ou seja, menos pressa para fazer as coisas. Outros, com visitas periódicas ao serviço de saúde ou ao médico, para exames, vacinas, tratamento e cuidados específicos. 
        
Certamente, a chamada terceira idade poderá ser vivida com mais tranqüilidade e menos complicação se os idosos forem cercados de atenção, consideração e carinho. E nesse ponto eles são como qualquer um de nós. Quem não gosta de receber atenção e carinho? Esse não é o jeito melhor de se viver?
        
Finalizando, você sabia que dentro de 25 anos um em cada dez brasileiros terá mais de 65 anos?

Para Saber Mais

Idade Avançada e Funcionamento Cerebral
Vivendo o Rítmo da Vida 
Hospital Virtual Brasileiro: Geriatria/Gerontologia


Convênio: Ministério da Saúde/Fundep – Universidade Federal de Minas Gerais 
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