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Cérebro e Ambiente

Silvia Helena Cardoso, PhD

O cérebro humano é a mais complexa entidade existente no planeta - talvez mesmo no universo. Sua população, composta por células nervosas (ou neurônios) e células gliais, são em número semelhante ao número de estrelas de nossa galáxia, ou seja, na ordem de centenas de bilhões.

As células nervosas comandam a motricidade, a sensiblidade e a consciência; as células gliais sustentam e mantém vivos os neurônios. A atividade das células nervosas constroem um mundo interno que se molda a medida que interage com o ambiente externo. O canal de comunicação entre estes dois ambientes são os nossos sentidos (tato, olfato, visão, audição e gustação) fornecidos por alguns de nossos órgãos que possuem células especializadas que convertem as mensagens de luz, de som, de imagens, de cheiro de sabor e de dor, em códigos compreensiveis para o cérebro, ou seja, em sinais elétricos, que são registrados no cérebro, e este, através de suas células, envia respostas de volta ao ambiente. 

A constante interação de mensagens e respostas entre estes dois ambientes é que determina a nossa experiência, sobrevivência e evolução de nosso mundo. São estas células que permitem, desde perceber o perigo, evitá-lo ou correr dele, até a criação de condições que permitem levar o homem à lua, construir aviões a jato ou trens supersônicos e reconstruir genes humanos.

Toda experiência gera transformação. A interação de nosso universo interno com o mundo externo, gera o remodelamento de ambos os ambientes para fins de adaptação.

De fato - e esta foi uma descoberta significativa das neurociências - a diversidade cultural do ambiente provoca mudanças no cérebro. Novos ramos de células interconectados (conexões sinápticas) são adicionados e ampliados em resposta à experiência e à aprendizagem, alcançando assim, regiões mais amplas do cérebro. 

Poderá o homem, com o seu cérebro, entender o cérebro do homem? Muitos cérebros, vivos e vivazes, ao longo de alguns séculos, vêm dando respostas brilhantes a muitos pontos obscuros, mas sua inteligência, tempo de investigação e métodos utilizados não têm sido suficientes para esclarecer centenas e centenas de dúvidas sobre esta questão. Talvez o homem precisasse de mais alguns milhares de anos para poder triplicar suas células nervosas, se superdotar de inteligência, refinar sua intuição e aprimorar a tecnologia, para então avançar significativamente o seu entendimento sobre este intrigante órgão.

Entretanto, sabemos que isso é impossível através dos meios naturais. Mesmo que uma pessoa estude muito e multiplique suas conexões cerebrais através da experiência, isso não é repassado a seus filhos. Para que isso acontecesse, seria necessário modificar os genes que controlam a reprodução celular e o número de neurônios, e é apenas a seleção natural que é capaz de fazer isso, ao longo de centenas de milhares de anos. Sabemos que o Homo sapiens tem o mesmo tamanho de cérebro há pelo menos 100 mil anos, apesar de todo o progresso da Humanidade.

A única possibilidade é o uso da engenharia genética, ou seja, a modificação artificial de nossos genes através de técnicas da biologia molecular. Talvez seja possivel criar crianças super-inteligentes. Tecnicamente isso é possível, mas trata-se de um dificílimo problema ético e moral. Teríamos o direito de fazer isso ? Será que não geraríamos monstros incontroláveis ? 

Como se diz, a Natureza é sábia. A interação entre o cérebro e o ambiente é lenta, e talvez isso tenha uma razão de ser. 

Silvia Helena Cardoso é psicobióloga, com doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. Pesquisadora associada do NIB/UNICAMP , editora-chefe e realizadora da Revista "Cérebro & Mente".

Correspondência:cerebro@nib.unicamp.br
 

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