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Maconha medicinal

Prof. Dr. Renato M. E. Sabbatini

Nas últimas eleições gerais que ocorreram nos Estados Unidos, os eleitores da Califórnia votaram em uma proposta de liberação do uso do tetra-hidro-canabinol (THC) para o tratamento de diversas doenças. Seria bastante estranho submeter a um plebiscito a autorização para o uso de um medicamento, se não soubéssemos qual é a planta que dá origem a esta útil substância ! No caso, é a Cannabis sativa, de onde são extraídos produtos que causam drogadição, tais como a maconha e o hashish, e cuja posse e comércio são ilegais em praticamente todos os países. A lei californiana dá permissão para que médicos, psicólogos e hospitais possam prescrever o THC a pacientes que tenham indicações médicas legítimas para esse uso, bem como para a comercialização de preparados quimicamente puros de THC por indústrias farmacêuticas.

Se ficasse por aí, estaria tudo muito bem, pois o mercado de medicamentos éticos (por prescrição médica, apenas) com potencial altamente aditivo, como morfina, sedativos, estimulantes, etc. já é regulado de forma adequada há muito tempo. Acrescentar THC a esta farmacopéia não seria nada demais (aliás, o THC já é fabricado legalmente com a finalidade de ser usado em pesquisas científicas). O estranho é que a lei permite que as pessoas tenham suas próprias plantações de Cannabis (uma planta fácil de cultivar até mesmo em apartamentos), detenham pequenas quantidades de maconha para uso próprio, ou a adquiram de alguém (quem ?). Na prática, isso acaba por dar validade ao tráfico ilegal de drogas, e torna extremamente difícil diferenciar entre usuários legítimos e ilegítimos da maconha e controlar a prescrição médica do THC. É a mesma coisa que permitir que as pessoas cultivassem papoulas (o que é permitido) com a finalidade de extrair morfina ou heroína (o que é proibido).

De qualquer forma, a pergunta é a seguinte: será que a maconha tem mesmo valor medicinal, como os seus defensores apregoam ? De fato, os extratos dessa planta são usados para fins medicinais desde 2.700 A.C., na China e na Índia. Antes de se disseminar na sociedade ocidental como uma droga recreativa, a maconha era usada no século passado como analgésico, antiespasmódico, sedativo, anestésico local, antidepressivo, antialérgico a antibiótico. No século 20, diversas pesquisas mostraram que o THC é realmente útil para diminuir a pressão intraocular de pessoas com glaucoma, e para a causa síndrome de abstinência (como no álcool e na heroína). Seu uso prolongado, em certas circunstâncias, causa dependência psicológica, e pode levar ao consumo de drogas mais pesadas. Por essa razão, principalmente, é fabricados por empresas farmacêuticas com boa reputação. Por ser uma poderosa droga psicotrópica e alucinogênica, seu uso indiscriminado é perigoso. É um absurdo permitir que as pessoas cultivem sua própria maconha ou a comprem dos traficantes. Esperemos que isso não venha a ocorrer no Brasil, também.


Publicado em: Jornal Correio Popular Campinas,
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