As Doenças Sexualmente Transmissíveis

Dr. João Batista Magro Filho e Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro

Atualmente, em vista da falta de informação, desconhecimento e mesmo difículdade em falar sobre as relações sexuais, existe grande inquietação das pessoas com relação às DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis, particularmente com a AIDS. Ressalte-se que até a década de 1960 existia um verdadeiro "tabu" acerca de assuntos como sexo e doenças venéreas (hoje conhecidas como doenças sexualmente transmissíveis. Sobre sexo, falava-se pouco, especialmente em público; e as DST eram problema dos homens - resultantes de seus contatos sexuais com prostitutas - e, eventualmente, do médico.

A partir dos anos 60s houve grande modificação no comportamento das pessoas - particularmente dos jovens - com relação aos hábitos e costumes, cabelos, maneiras de vestir, portar-se e linguagem. O jovem tornou-se rebelde, questionando restrições, limites, rigidez de costumes e especialmente a falta de liberdade pessoal. Esse movimento tornou possível a historicamente conhecida "revolução sexual dos anos 60" – quando as relações sexuais passaram a ser praticadas com maior liberalidade.

De certa forma, essa liberação foi prejudicial, haja vista que a maioria dos jovens passou a ter diversos parceiros sexuais e, por não terem sido preparados para assumir com responsabilidade essa liberdade sexual – pelo fato de não disporem de conhecimentos e informações sobre gravidez indesejada, DST ou a importância do uso da "camisinha" –, tornaram-se pais precocemente ou pegaram sífilis, gonorréia, cancro e outras DST.

Posteriormente, no começo da década de 80, muitas pessoas, ainda por falta dessas informações e conhecimentos, tiveram a triste surpresa de descobrir que estavam com AIDS.

Para transar sem problemas e não correr o risco de se infectar por uma DST ou pela AIDS, utilize (ou leve seu parceiro a utilizar) de modo correto a "camisinha" (preservativo masculino).

Algumas Definições

  • Estado de infecção é quando o organismo humano detém o microrganismo (o agente infeccioso) mas a pessoa não apresenta sinais e/ou sintomas associados a nenhuma patologia.
  • Estado de doença – nessa situação, o agente infeccioso se manifesta e a pessoa passa a apresentar os sinais e sintomas a ele relacionados. Vários fatores podem contribuir para que isto ocorra, tais como condições de moradia, higiene, utilização ou não de drogas, freqüência alcoólica, estado nutricional, nível de estresse, sistema imunológico, etc.
  • Período de incubação como sabemos, algumas doenças levam determinado tempo para se manifestar. Assim, chama-se período de incubação o intervalo entre o contato com o agente infeccioso e o surgimento dos sinais e sintomas a ele pertinentes - variável conforme a doença. A AIDS, por exemplo, tem em recém-nascidos um tempo de incubação de meses; em crianças maiores e adultos, de anos. Na gonorréia, o período de incubação é de 2 a 7 dias, no qual não se observa qualquer sinal indicativo de que a pessoa esteja doente. No entanto, como o agente infeccioso está dentro do corpo, a pessoa pode vir a transmiti-lo para outras.
  • Portador assintomático é aquela pessoa que tem o agente infeccioso em seu corpo, mas não apresenta nenhum sintoma ou sinal exterior da doença.

As Formas de Manifestação das DSTs

As DSTs manifestam-se mediante várias formas:

  • por corrimentos (secreções) vaginais e uretrais - como na gonorréia, candidíase e tricomoníase;
  • por lesões genitais com feridas (úlceras) - como na sífilis, cancro mole e herpes;
  • por verrugas - como no condiloma acuminado;
  • por um quadro de síndrome (conjunto de sinais simultâneos que podem ser provocados por mais de uma causa) – como na AIDS.

A pessoa quem tem alguma DST está mais exposta ao vírus da AIDS, pois pode estar com feridas nos órgãos genitais, o que favorece a entrada do HIV (vírus da AIDS).

As DSTs Mais Comuns


Gonorréia

Esta é a mais comum das DST. Sua principal característica é, entre 2 a 8 dias após a relação sexual, o homem ou a mulher sentir ardência e dificuldade em urinar. Às vezes, pode-se notar um corrimento amarelado ou esverdeado - até mesmo com sangue - que sai pelo canal da urina, no homem, e pela vagina, na mulher. Nesta, a doença é de mais difícil reconhecimento já que, na maioria dos casos, manifesta-se de forma assintomática. Caso a doença não seja tratada pode provocar esterilidade, atacar o sistema nervoso (causando meningite), afetar os ossos e até o coração. A gonorréia é clinicamente diagnosticada através do exame dos parceiros sexuais portadores ou mediante diagnóstico diferencial de corrimentos vaginais.

Mas atenção: corrimentos são muito comuns em mulheres, por isso sua ocorrência não necessariamente significa sintoma de doença transmitida pela relação sexual. Somente o médico pode fazer seu correto diagnóstico, indicando o tratamento adequado.

Candidíase

Na mulher, caracteriza-se pelo surgimento de corrimento de cor branca com aspecto de leite talhado e sem cheiro, acompanhada por coceira nos órgãos sexuais e ardência ao urinar; no homem, pode causar vermelhidão e coceira no pênis, além de ardência ao urinar. Em ambos, pode ocorrer infecção urinária.

Tricomoníase

Seus principais sintomas são corrimento amarelo-esverdeado com mau cheiro, dor durante o ato sexual, ardência, dificuldade para urinar e coceira nos órgãos sexuais. Na mulher, a doença pode também localizar-se em partes internas do corpo.

Sífílis

Doença que pode apresentar complicações muito graves, se não atendida a tempo. Manifesta-se com pequena ferida nos órgãos sexuais, com ínguas (caroços) nas virilhas, surgidas entre a 2ª ou 3ª semana após a relação sexual. A ferida e as ínguas não doem. A ferida desaparece após algum tempo, dando à pessoa a falsa impressão de estar curada. No entanto, isto não acontece: meses depois aparecem manchas em várias partes do corpo, inclusive palmas das mãos e solas dos pés - que também desaparecem, mas a pessoa continua doente. Caso não ocorra o tratamento, a doença fica estacionada por meses ou anos até o momento em que surgem complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral, problemas cardíacos e, até mesmo, risco de morte. Ressalte-se que a sífilis pode ser também transmitida por transfusão sangüínea.

A sífilis passa para o bebê! Caso a mulher grávida com sifilis não faça o tratamento, a sua criança pode contrair a doença e apresentar problemas muito sérios ao nascer: pneumonia, feridas no corpo, cegueira, dentes deformados, problemas ósseos, surdez ou retardamento. Em casos mais graves, ocorre o abortamento ou morte ao nascer. Por isso, é absolutamente importante que no início e durante a gravidez a mulher realize exame de sangue para verificar se está com sífílis. Caso isto seja constatado, o médico prescreverá o tratamento adequado para a mãe e seu parceiro, bem como evitará que a doença se transmita para o bebê.

Cancro mole

Popularmente conhecido como "cavalo", manifesta-se de 2 a 5 dias após a relação sexual com alguém portador da doença. No início, surgem uma ou mais feridas pequenas, com pus. Após algum tempo, forma-se uma ferida úmida e bastante dolorosa, que se espalha e aumenta de tamanho e profundidade. A seguir, surgem outras feridas em volta das primeiras. Após a 2ª semana do início da doença pode aparecer uma íngua na virilha, dolorosa e avermelhada, que chega a prender os movimentos da perna, impedindo a pessoa de andar. Essa íngua pode abrir e expelir pus espesso, esverdeado, misturado com sangue. Nos homens, em geral as feridas localizam-se na ponta do pênis; na mulher, na parte externa do órgão sexual e no ânus, mais raramente na vagina – ressalte-se que a ferida pode não ser visível, mas provoca dor na relação sexual e ao evacuar.


Herpes genital

Em seu início, manifesta-se por pequenas bolhas localizadas principalmente na parte externa da vagina e na ponta do pênis - que podem arder e causam coceira intensa. Ao se coçar, a pessoa pode romper a bolha, causando uma ferida. Nas mulheres, o herpes pode também localizar-se nas partes internas do corpo. As feridas desaparecem por si. Após algum tempo, o herpes reaparece no mesmo local, com os mesmos sintomas. Enquanto persistirem as bolhas e feridas, a pessoa infectada estará transmitindo a doença.

Conclusões

Apesar de graves, as DST, em sua maioria, podem ser curadas mediante o tratamento adequado. Se você ou seu (sua) parceiro(a) observarem qualquer dos sintomas descritos neste texto, devem imediatamente procurar ajuda médica. Não tomem nenhum remédio por conta própria ou indicado por amigos ou vizinhos, pois isto é muito perigoso.

Todo cidadão deve estar plenamente consciente da importância de agir para a melhoria de sua saúde pessoal e do bem-estar de toda a comunidade. A saúde é um direito de todos, mas inicia-se com o dever de se cuidar do corpo e buscar uma vida saudável. Sexo seguro é sexo sem medo e fonte de saúde e prazer.

Nota: Este texto não abordou a AIDS, doença sexualmente transmissível que vem se disseminando em todo o mundo. Em vista de sua complexidade, a AIDS será abordada como um tema específico, em outro documento.


Convênio: Ministério da Saúde/Fundep – Universidade Federal de Minas Gerais
Programa VIVA LEGAL/TV FUTURA
Reproduzido com Permissão



Uma realização: Núcleo de Informática Biomédica
Todos os direitos reservados. Reprodução proibida.
Copyright 2002 Universidade Estadual de Campinas