O que é a Hanseníase?

Dr. José Veloso Souto Júnior
Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro


Um pouco de história
Hanseníase: o que é?
Os sintomas da hanseníase
Diagnóstico
Tratamento e Prevenção
A cura da hanseníase

Um pouco da história

 A hanseníase, anteriormente conhecida como lepra, termo hoje considerado pejorativo, talvez seja um dos mais antigos males da humanidade. Sinais sugestivos de sua existência foram encontrados em esqueletos do século II aC, recentemente descobertos no Egito.

A bactéria causadora da doença (Mycobacterium leprae) foi descrita, em 1874, pelo médico norueguês Gerhard Henrik Armauer Hansen.
 
 

Gerhard A. Hansen
Descobridor da bactéria da
hanseníase
Mycobacterium leprae em
exame microscópico da pele
de um paciente

No Brasil, os primeiros casos notificados datam de 1600, na cidade do Rio de Janeiro. Focos da doença foram também identificados na Bahia e Pará. As primeiras iniciativas de combate à hanseníase ocorreram por ordem de D. Pedro VI e limitaram-se à construção de leprosários e uma precária e incipiente assistência aos pacientes. Entre 1912 e 1920, Emílio Ribas, em São Paulo, e Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, denunciaram o descaso do governo com relação ao combate às endemias, entre as quais incluía-se a hanseníase.

Em 1920, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, foi instituída a Inspetoria de Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas; e em 1941 foi criado o Serviço Nacional de Lepra.

O Brasil foi pioneiro na substituição do termo lepra por hanseníase, numa tentativa de, assim, livrar a doença do estigma historicamente inerente a seu nome, fortemente vinculado ao preconceito social. Entretanto, na prática, os efeitos dessa mudança foram extremamente tímidos, talvez porque esta nova denominação não foi adotada por todos e nem se fez acompanhar de um esforço educativo no sentido de mudar, na coletividade, as atitudes e discriminação com relação à doença e às pessoas por ela atingidas – ainda hoje continuam a existir discriminações que dificultam a reabilitação social e desestimulam o portador da doença a prosseguir no tratamento, que, ressalte-se, registra altos índices de cura.

Hanseníase: o que é?

A hanseníase é uma doença infecciosa e crônica, transmitida de pessoa para pessoa mediante o contato com pacientes não tratados e/ou portadores de suas formas contagiosas. Classificada como doença de pele, atinge, também e severamente, os nervos, fato esse que causa os maiores problemas e limitações a seus portadores.

O homem é o único reservatório conhecido dessa infecção: somente os doentes que apresentam lesões em atividade - e que eliminam bacilos em quantidade pelo nariz e boca - são os transmissores da doença. É possível que os nódulos feridos na pele, o leite materno e os cortes e rachaduras da pele dos doentes possam ser também vias de transmissão.
 
 

Nódulos lepromatosos nos dedos

Entretanto, dentre as doenças contagiosas a hanseníase é a que apresenta menor poder de contágio. Conforme a opinião de especialistas para adquirir a doença o indivíduo deve ter, ainda, uma predisposição à mesma; o que explica o fato de que algumas pessoas passem a vida tratando ou lidando com pacientes hansenianos sem jamais a contraírem.

É importante ressaltar que o paciente hanseniano deixa de ser fonte de infecção duas semanas
após ter iniciado o tratamento com os medicamentos que matam as bactérias.
Além disso, nem todos os tipos de hanseníase são contagiosos.

Os sintomas da hanseníase

A hanseníase atinge, principalmente, a pele e os nervos. Os nervos são, metaforicamente, como fios elétricos. Assim como os fios passam por dentro das paredes das casas, os nervos passam por dentro de todo o nosso corpo, permitindo-nos uma série de sensações - frio e calor, dor e tato, por exemplo. Como sabemos, se um fio elétrico estiver estragado conseqüentemente os aparelhos não funcionam, não "ligam". Processo similar ocorre com os nossos nervos: se não estiverem funcionando bem, não seremos capazes de sentir as coisas que encostam em nossa pele ou corpo.

Mas os nervos não servem apenas para nos transmitir sensações. Servem também para movimentarmos nosso corpo: é sua ação que nos permite fechar a mão, movimentar os dedos ou as pernas, por exemplo.

Infelizmente, o bacilo de Hansen - causador da hanseníase - pode atingir vários nervos. Preponderantemente os nervos que passam pelos braços e pernas. Por isso, as pessoas acometidas de hanseníase relatam ter, no início da doença, a percepção de regiões ou manchas como que "adormecidas" na pele, bem como dores, cãibras, formigamento e dormência nos braços, mãos e pés. Em acréscimo, os nervos da pele são também atingidos – a junção dessas características torna as manchas ou áreas da pele com dormência como os principais sinais de identificação da hanseníase.
 

Alterações da pele que caracterizam a hanseníase:
  • Manchas avermelhadas ou esbranquiçadas
  • Rarefação dos pêlos no local ou perda de pêlos das sobrancelhas
  • Diminuição do suor
  • Surgimento de caroços ou nódulos

 As manifestações neurológicas são comuns a todas as formas de hanseníase e se caracterizam por:

  • Diminuição da sensibilidade no local
  • Sensação de anestesia com perda da sensibilidade dolorosa ao calor ou frio no local
Por sua vez, o comprometimento dos nervos provoca:
  • Diminuição da forca muscular
  • Atrofia e contração dos pés e/ou mãos e dedos, principalmente
  • Ressecamento dos olhos
  • Lesões de mucosa.
Diagnóstico

 O diagnóstico é feito clinicamente, a partir de sintomas como os acima apresentados. Solicita-se, também, a realização de testes laboratoriais específicos, visando encontrar nas secreções ou pele os bacilos causadores da doença.

O médico deve estar atento para distinguir se efetivamente trata-se de um caso de hanseníase, pois outras doenças, como a leishmaniose ou vários tipos de alergias que se manifestam através de alterações na pele, podem apresentar sintomas semelhantes.

Tratamento e Prevenção

Atualmente, há diversos medicamentos específicos para o tratamento da hanseníase. Apresentam grande eficácia, mas devem ser ajustados pelo médico ao caso e às características pertinentes a cada paciente. As reações individuais aos remédios recomendados podem implicar na troca de medicamento e adaptações de doses, o que só pode ser realizado sob estrito controle médico.

Como acontece com quase todas as doenças, é possível adotar medidas simples para evitar a propagação da hanseníase onde existam focos da doença. Essa prevenção é realizada com a adoção de cuidados de higiene pessoal e coletiva, particularmente nas residências dos bairros e vilas mais populosos, evitando-se a promiscuidade e o acúmulo de pessoas com baixa imunidade em ambientes pequenos e mal cuidados, que não recebam sol nem tenham circulação de ar puro.

Cuidados especiais devem ser adotados pelos familiares, amigos e pessoas que mantenham contato com os doentes, particularmente os que convivem no mesmo domicílio: todos devem ser submetidos a exame para detecção eventual da doença, bem como receber orientações, por pessoas adequadamente preparadas , sobre o tratamento e evolução.

A cura da hanseníase

A hanseníase, doença das mais antigas e marginalizadas da história humana, é hoje bem conhecida e passível de ser controlada e até mesmo erradicada desde que em suas áreas de foco sejam coletivamente adotadas medidas preventivas e apropriadas de saúde pública.

Como dissemos, seu diagnóstico é feito clinicamente e com apoio de exames de laboratoriais. O tratamento leva à cura e está hoje disponível gratuitamente nos serviços do Sistema Único de Saúde de todo o país.

Vencer o preconceito social, inclusive dos próprios pacientes, que tendem a se automarginalizar, é o grande desafio associado à hanseníase. Portanto, uma das informações mais importantes para ampla difusão é a que tão logo o doente inicie seu tratamento cessa completamente a possibilidade de contágio.

Lembre-se sempre e divulgue a informação de que a hanseníase tem cura



Reproduzido e adaptado com a permissão do:
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