A Verdade sobre o Anti-Envelhecimento

Dr. João Roberto D. Azevedo e Dr. Faiçal Simon

O comércio de produtos que combatem o processo de envelhecimento está em plena expansão envolvendo um mercado de bilhões de dólares.

Uma análise apurada revela que este mercado compõe-se de produtos que não têm qualquer base científica para comprovar sua eficácia.

Como o silêncio da ciência contribui muito para a expansão do problema, 51 cientistas, os mais representativos do campo de estudo do envelhecimento, redigiram um relatório mostrando os fatos científicos existentes com relação a esses produtos separando-os da ficção. Este relatório foi publicado na revista Scientific American de 13 de maio de 2002 - www.sciam.com/  . Editorial sobre o tema saiu na edição de junho deste ano da mesma revista, sob o título de "No Truth to the Fountain of Youth" (As inverdades sobre a fonte da juventude).

Foram reunidos os principais pesquisadores do campo do envelhecimento conhecidos, que redigiram um documento que mostra o estado atual do conhecimento científico sobre o envelhecimento humano. Entre os autores do documento destacam-se: S. Jay Olshansky (School of Public Health, University of Illinois at Chicago), Leonard Hayflick (University of California at San Francisco) e Bruce A. Carnes (University of Chicago/National Opinion Research Center).

O século passado mostrou o resultado positivo obtido por várias campanhas de saúde pública que provocaram importantes mudanças no comportamento das pessoas e que junto com o avanço da medicina levaram a um importante aumento na expectativa de vida das pessoas, principalmente no mundo desenvolvido. Mesmo as populações de países em desenvolvimento receberam os benefícios destas mudanças.

As mudanças, em geral, foram positivas contribuindo inclusive para o desenvolvimento sócio-econômico de paises, alem das aquisições na área da saúde. Junto aos aspectos positivos observados notam-se também inúmeros aspectos negativos. Entre estes se encontram a proliferação dos ditos produtos que combatem o envelhecimento, que supostamente reverteriam o processo da velhice. Na imensa maioria dos casos são produtos sem qualquer base científica e que cobram preço alto da população desinformada. São produtos pseudocientíficos sem qualquer base científica pura.

O documento publicado pela revista Scientific American é memorável e tem o propósito de alertar a população sobre produtos ineficazes que prometem combater o envelhecimento, alguns dos quais inclusive maléficos para a saúde, e mostrar um consenso entre cientistas de vários países reconhecidamente destacados em seu meio de trabalho.

O relatório mostra o que há de verdadeiro e de falso no mercado antienvelhecimento. São fatos relacionados à longevidade de pessoas que, em geral, são mal estudados e divulgados de maneira exagerada. A expectativa de vida nos países desenvolvidos aumentou de maneira importante sendo previsto para o século 21 exceder os 90 anos sabendo que mortalidade do Homem envolve não só o processo biológico do envelhecimento como os acidentes, homicídios e suicídios.

Que a medicina moderna contribuiu muito para uma longevidade maior e com saúde é facilmente observado. Na realidade a medicina salva vidas e administra melhor certas doenças, mas sempre sem interferir no processo de envelhecimento.

A medicina antienvelhecimento alega ter o poder de reverter o processo de envelhecimento, parando-o ou desacelerando-o.... Apresenta afirmações com uma base sem qualquer fundamento científico. É composta por médicos das mais diferentes especialidades que vão de clínicos gerais a geriatras, passando por neurologistas e endocrinologistas. Em geral misturam medidas médicas sabidamente eficientes, como cortar o tabagismo, dieta saudável e prática de exercícios físicos associadas a verdadeiros coquetéis de medicamentos, compostos por vitaminas, sais minerais e hormônios, que freqüentemente geram problemas de saúde. Isto quando não apelam para o esoterismo... O grande objetivo da medicina antienvelhecimento é o lucro.

A medicina cosmética sem dúvida tem muito valor ao esconder o processo de envelhecimento e muitas vezes se torna útil ao elevar a auto-estima. O mercado dos cosméticos infelizmente é muito rico em produtos sem qualquer valor terapêutico ou embasamento científico.

Os antioxidantes ocupam lugar especial no mercado. O uso de substâncias que combatem os radicais livres, participantes importantes do processo de envelhecimento, dá aparentemente um cunho científico aos antioxidantes.   A simples ingestão de determinados suplementos, em geral vegetais e frutas, combateria os radicais livres impedindo o processo de envelhecimento seguir seu caminho. Muitos preconizam que os antioxidantes combateriam o câncer, doenças do coração e até a catarata. Vários estudos foram realizados em laboratório e nada foi comprovado de objetivo quanto a ação dos antioxidantes sobre o processo de envelhecimento a não ser que uma dieta rica em vegetais e frutas é muito saudável.

Vários hormônios são utilizados no combate à velhice com destaque para a progesterona, a testosterona e o estrógeno. Realmente são substâncias que podem alterar algumas manifestações devidas à velhice podendo ser úteis. Mas não se conhece qualquer hormônio que interfira diretamente no processo de envelhecimento. Por outro lado o uso de hormônios feito sem controle podem produzir feitos colaterais induzindo até o encurtamento da vida.

A restrição calórica em animais provoca aumento da longevidade, sendo que animais que se alimentam demasiadamente tem sua vida encurtada.  Mecanismo ainda desconhecido indica que a diminuição de calorias reduz o risco para inúmeras doenças. São observações confirmadas cientificamente em animais de laboratório, não se conhecendo trabalhos científicos feitos em humanos que chegassem às mesmas conclusões, apesar de encontrarmos referências na literatura medica, como no trabalho citando que crianças super-alimentadas  apresentam vidas mais curtas ( Fritz Kahn, em O CORPO HUMANO - ED.  1935). A restrição calórica é considerada insuportável por muitas pessoas sendo que estas preferem a qualidade de vida à quantidade de vida. O campo de estudo sobre os efeitos da restrição calórica é um dos mais palpitantes e promissores.

A velocidade de envelhecimento varia de pessoa para pessoa. Não se conhece processo confiável que meça os processos que controlam a longevidade de uma pessoa. A idade biológica exata de uma pessoa é impossível de ser avaliada cientificamente.

Não se conhece um processo genético que oriente o envelhecimento animal. O que se sabe é que o envelhecimento surge por alterações moleculares no íntimo das células atingindo a produção de energia necessária à manutenção da integridade celular. A velhice iniciar-se-ia após o período reprodutivo e seria influenciada geneticamente apesar do processo de envelhecimento não ser programado geneticamente.

O processo de administração do meio ambiente controlando os fatores desfavoráveis à sobrevivência muito contribuiu para o aumento da longevidade.

O homem está aprendendo a controlar os fatores externos que atuam negativamente sobre a sua sobrevivência. Estes fatos estão permitindo o homem e alguns animais domesticados a sobreviverem alem do seu período reprodutivo.

A questão da participação genética no processo de envelhecimento é muito estudada. Vários trabalhos realizados em animais demonstram experimentalmente que a longevidade é controlada geneticamente. Nenhuma pesquisa mostrou até agora, entretanto que seja possível o controle genético sobre a mortalidade. O controle genético atuaria sobre o crescimento e o desenvolvimento do organismo sem alterar o processo de envelhecimento.

Tudo indica que não existe um programa genético unitário especifico que determine nossa longevidade. A genética controlaria indiretamente o processo de longevidade. A velhice seria um produto da negligência do processo evolutivo e não de uma intenção de nossa evolução.

Como permanecer jovem?

Mascarar os sinais da velhice e controlar os fatores de risco para as doenças são as armas que dispomos para combater o processo de envelhecimento. Não é possível tornarmo-nos jovens, revertendo o inexorável processo. A degradação da integridade molecular ocorre tanto em seres humanos e animais como em objetos inanimados.

O conhecimento da estrutura do genoma leva a possibilidade futura de que, ao manipularmos determinadas seqüências de cromossomos, possamos interferir diretamente no processo de envelhecimento. O crescente avanço da genética molecular já está abrindo a possibilidade de tratamento de inúmeras doenças geneticamente bem conhecidas, mas, infelizmente, quanto ao envelhecimento, o que se sabe é que não existem genes diretamente responsáveis pelo processo. A experiência obtida durante centenas de anos com a manipulação de plantas e de animais revelam que organismos alterados geneticamente com o objetivo de melhorar algumas de suas características tornam-se fragilizados.

Existe um risco real de, ao manipularmos geneticamente um organismo no sentido de melhorar algumas de suas características, estarmos comprometendo importantes propriedades biológicas relacionadas à sua sobrevida.

Exercícios feitos com regularidade, dieta balanceada e administração do equilíbrio emocional formam as bases para uma melhor expectativa de vida: uma longevidade com saúde, mas são informações sem bases científicas que demonstrem que tais praticas interfiram diretamente no processo de envelhecimento.

O relatório finaliza afirmando não existir mudanças de hábitos ou de estilo de vida, procedimentos cirúrgicos, vitaminas, minerais, antioxidantes, hormônios ou técnicas de engenharia genética que interfiram no processo de envelhecimento.

Os cientistas que assinam o relatório alertam para não se comprar produtos que afirmem reverter ou interromper o processo de envelhecimento. O que a medicina nos informa é que de um lado nosso envelhecimento não é programado geneticamente e que por outro lado a saúde pode melhorar muito evitando-se comportamentos pouco saudáveis como o tabagismo, a obesidade, o excesso de álcool e de exposição ao sol, por exemplo, e adotando-se hábitos saudáveis como a prática de exercícios com regularidade e dieta balanceada.

Os cientistas acreditam no valor da pesquisa cientifica séria e esperam que em breve surjam novidades quanto à possibilidade de se intervir diretamente sobre o processo de envelhecimento.

A velhice é o principal fator de risco para inúmeras doenças e para a morte e é fundamental que se estude seu processo sem perder tempo em procurar uma impossível fonte da juventude. A eliminação da doença cardíaca, do câncer, do derrame e de tantas outras relacionadas com o envelhecimento são os principais objetivos da medicina moderna.

Para Saber Mais

Scientific American, maio de 2002 : The Truth about Human Aging

Idade Avançada e Funcionamento Cerebral - Dr. Renato M.E. Sabbatini

A morte programada - Dr. Renato M.E. Sabbatini

Envelhecendo com Saúde- Dr. Cornelis Johannes van Stralen e Dra. Maria Aparecida Andrés Ribeiro


Publicado por cortesia do Boletim Informativo Eletrônico (BIC)
Editor-Chefe: Dr. João Roberto D. Azevedo, médico geriatra.

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